Cuidados importantes na hora de executar uma demolição
- Arq. Cleverson Sousa
- 17 de jan. de 2019
- 6 min de leitura
Todo profissional que trabalha com projeto de reformas em edificações, seguramente, precisou demolir uma parede (ou várias!) para viabilizar uma solução espacial. Tal situação é bastante comum e já faz parte do dia a dia das equipes de obra, engenheiros, arquitetos e decoradores. Mas você sabia que para efetuar uma demolição com segurança você precisa tomar alguns cuidados? Nesse artigo apresentaremos os principais pontos de atenção a serem seguidos para garantir que sua obra termine bem, com todos os envolvidos satisfeitos!

As demolições fazem parte da maior parte das obras de reforma. Imagem: Blog da Engenharia
1. Verifique o estado de conservação da edificação
Esse é o primeiro passo, e o mais fundamental para garantir a boa condução das obras. Se você pretende demolir paredes e vedações em uma reforma, é primordial que você saiba no que é que você está mexendo! Nessa fase é importante conhecer não apenas o tipo de estrutura (convencional, metálica, alvenaria estrutural, madeira...) mas também as condições de conservação da mesma.
Para isso é importante realizar uma vistoria detalhada da edificação. No caso de reformas em apartamentos, inclusive, essa vistoria não deve se ater apenas à unidade que será reformada, mas também às áreas comuns e, se possível, nos vizinhos imediatos.
Se na vistoria forem verificadas anomalias tais como fissuras, trincas, dificuldade de abertura de portas e janelas, afundamentos de pisos e tetos, entre outros, deve-se redobrar a atenção. Nesses casos, o indicado é que seja feita uma análise mais aprofundada da estrutura para se certificar de que a edificação conseguirá absorver bem os impactos das alterações.

Primeiro passo para planejar sua demolição é vistoria a edificação.
2. Conheça a estrutura em que você está intervindo
A maior parte dos profissionais sabe que edificações construídas com alvenaria estrutural não podem ter suas paredes removidas. Porém, você sabia que as edificações construídas do método convencional (laje-pilar-viga) também demandam cuidados especiais?
O concreto armado sofre um fenômeno chamado de "fluência", ou "deformação lenta". Tal fenômeno, como o próprio nome já diz, consiste em uma progressiva e constante alteração na geometria das vigas e pilares, sob a atuação de uma carga constante. Trata-se de um comportamento conhecido há muito tempo e que, em situações normais, não traz maiores problemas para a edificação. Contudo, ao longo dos anos, essa situação acaba propiciando a transferência de cargas entre a estrutura e outros elementos da edificação, como paredes, esquadrias, divisórias e até armários.

A fluência é um fenômeno natural das estrutura de concreto. Imagem: Techne
Em edificações com estrutura de concreto armado mais antigas (em média mais de 30 anos), deve-se levar em consideração os efeitos da fluência no caso de uma demolição. Isso porque, ao remover uma parede que eventualmente recebia parte do carregamento da estrutura, esta última tenderá a ser acomodar, ocasionando movimentações. Essas movimentações podem levar ao surgimento de fissuras nas unidades imediatamente acima, ou abaixo, daquela que está sendo reformada.
Além disso, outros sistemas estruturais, como aço e madeira, por serem muito leves, sofrem mais com os impactos resultantes do uso de marteletes e outros equipamentos adotados nas demolições. Nesses casos, aumentam as chances de aparecerem fissuras nos encontros entre a estrutura e os elementos de vedação da edificação.
3. Mesmo que você conheça a estrutura, use escoras!
Vamos tentar visualizar uma cena. Imagine que você está bem relaxado, encostado em um poste, esperando o seu ônibus passar. De repente, por algum motivo, o poste que estava te escorando é removido do seu lugar. Qual é a sua reação imediata? Além do susto de perder seu apoio, você provavelmente irá sofrer um solavanco, um "tranco", para corrigir sua posição e evitar levar um tombo, correto?
Pois bem, com a estrutura da sua edificação acontece exatamente a mesma coisa. Quando você remove uma parede, naturalmente acontece uma reação de "alívio" sobre os elementos que estavam imediatamente abaixo. Da mesma forma, e no sentido oposto, aparece uma "sobrecarga" dos elementos que estavam acima. Se você leu o item acima, pode considerar nessas reações também o efeito da fluência. Na maior parte dos casos, esse conjunto de forças atuando sobre a de demolição pode levar à fissuração dos elementos construtivos existentes. Porém, em situações nas quais a estrutura já apresente algum tipo de comprometimento, os resultados podem ser mais sérios, dando origens a anomalias graves.
Para evitar esse problema, deve sempre ser providenciado o escoramento da estrutura na região em que está sendo feita a demolição. Esse escoramento pode ser feito com madeira, escoras metálicas ou qualquer outra tecnologia que você preferir. As escoras devem estar dispostas alternadamente (de cada lado da parede), à distância máxima de 1,20m uma da outra. Após concluída a demolição, as escoras devem ser removidas aos poucos, sempre de fora pra dentro, de forma a permitir a acomodação da estrutura aos poucos, evitando choques.

O uso de escoras reduz o impacto da demolição sobre a estrutura. Imagem: Habitíssimo
4. Cuidado com os equipamentos utilizados
A demolição é uma atividade que demanda impactos repetitivos sobre um determinado elemento construtivo, com o intuito de rompê-lo e reduzi-lo a pedaços menores, que podem ser transportados. Por se tratar de uma atividade de impacto, é muito importante controlar a intensidade com que a mesma será executada, para evitar reflexos negativos sobre as partes que não serão demolidas.
Profissionais menos experientes, ou menos conscientes, tendem a não se importar com o operacional e deixam as equipes de obra fazerem as atividades da forma como bem entenderem. No caso de uma demolição é muito importante ter controle dos equipamentos que serão usados e a forma como os mesmos serão aplicados. O uso de marteletes muito pesados, por exemplo, pode condenar a estrutura de um prédio, devido à intensidade das vibrações que agirão sobre a mesma.
O ideal, especialmente em estruturas mais antigas, é limitar a carga dos marteletes a, no máximo 5Kg. Em condições específicas, em que sejam necessários equipamentos maiores, o mais recomendado é consultar um especialista em estruturas, que poderá dimensionar o tipo de máquina a ser adotado com segurança.

A carga do martelete deve ser adequada à capacidade da estrutura resistir às vibrações.
5. Siga o fluxo: de cima para baixo, das bordas para o meio!
A hora da demolição costuma ser uma verdadeira folia no canteiro de obras. Por se tratar de uma atividade com pouco rigor técnico, é comum vê-la sendo executada por ajudantes ou serventes, sem muita preocupação por parte dos executores. No entanto, existem formas mais adequadas de se remover uma parede, de forma a ocasionar menos danos aos sistemas da edificação.
A melhor maneira de se realizar uma demolição, depois de observados todos os itens citados acima, é conduzindo-a de cima para baixo e das bordas para o meio. Dessa forma, onera-se menos a estrutura e reduz-se os efeitos das vibrações sobre a edificação.
6. Cuidado com o entulho!
Deve-se planejar cuidadosamente o armazenamento e a retirada de entulho da obra, principalmente no caso de edifícios de múltiplos pavimentos. É comum observarmos as equipes ensacando o entulho resultante de uma demolição e armazenando o material resultante no meio dos cômodos. Tal prática acaba por onerar desnecessariamente a estrutura das lajes, justamente no seu ponto de maior fragilidade que é o centro do vão.
O ideal é que o entulho ensacado fique armazenado próximo aos apoios estruturais, nas bordas dos compartimentos, e que seja descartado todos os dias ao término do expediente. Além de garantir um canteiro mais limpo, essa prática evita o surgimento de anomalias devido à sobrecarga dos elementos estruturais.

O armazenamento e descarte adequado dos resíduos é responsabilidade do RT da obra.
7. Siga corretamente as normas técnicas
A norma brasileira NBR-16.280/2015 estabelece que as reformas que envolverão demolição devem possuir Plano de Reforma. Esse documento consiste em uma análise pormenorizada das intervenções que serão empreendidas e seu impacto sobre a edificação existentes. O Plano de Reforma pode ser elaborado por engenheiros ou arquitetos e deve ser apresentado ao síndico do condomínio antes do início das obras, para aprovação. Dessa forma, garante-se que estão sendo atendidos os requisitos mínimos de segurança para a realização da obra, além de minimizar eventuais efeitos negativos da mesma sobre a edificação.

De acordo com a NBR-16.280, obras de reforma devem ter resposável técnico e laudo de segurança.
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